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Transcuradoria_Denise Nuvem

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Denise Nuvem atua nas articulações do invisível, curadorias e conexões entre o que ainda não existe.
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Entrevista em processo, iniciada em dezembro de 2021:

@loveletter.exe:
“Olá Denise! Você poderia começar nos contando a história dessa imagem?”
Denise Nuvem: Essa frase eu sequer lembro o contexto muito bem, mas foi algo em torno de alguma web performance das experiências de grupos de print. Algum momento que eu tinha arquivado o grupo e quando liberei ele de novo as pessoas estavam debatendo sobre isso, e eu soltei essa frase meio ao debate, e uma conhecida do grupo me conheceu pessoalmente e escreveu essa frase no papel e saímos andando pela rua com ela. Lembro que foi uma noite muito especial pois foi a primeira noite da Biarritz em São Paulo e essas garotas que conheci no grupo eram artistas de cinema e foi uma reunião de mulheres produtoras de vídeos. Não sei se elas gostariam de ser citadas, elas pegaram mal comigo quando postei alguma reflexão sobre radfeminismo de internet, que não tem a ver com o movimento real. Mas fiz uma crítica aos fenômenos no mundo cyber e enfim, há pessoas que não lidam muito bem com análises ou acham que tudo seja incriticável. Eu não me oponho a luta das pessoas, a qual considero minha também, mas por isso mesmo acho que criticar as formas como elas acontecem e se abrir a análises seria uma forma de produzir evoluções e mudanças efetivas, não apenas discursivas, mas esse é um outro papo, pra outro momento. 
 
@loveletter.exe: “ antes dessa entrevista você comentou: "-Não me sinto artista ao ponto de ser exposta. Eu estou mais nas articulações do invisível e curadorias malucas, conexões, coisas que nem existem ainda". Você pode nos falar um pouco sobre as articulações do invisível que você cria?
Denise Nuvem: Teia de aranha, a web, o tecer das salivas, e da escrita que remete a saliva. 
 
@loveletter.exe: Ainda sobre a nossa conversa anterior, o que é ser artista ou não-artista pra você?
Denise Nuvem: Quando me pedem imagem, com título, minibio, descrição da imagem. Eu saio andando. Então entendo que meu trabalho e minha preocupação não está na produção da imagem, ou do resultado estético, e sim dos processos, coisas que escapam da captura. Talvez eu esteja mais próxima de ser uma escritora, uma poeta sem livro, do que uma artista visual. Arte pra mim é multidisciplinar é a quebra da especificidade, translinguagem.
 
@loveletter.exe: “A esquizoanálise parece estar sempre presente nas suas formas de expressão, você pode nos contar mais sobre essa relação?”
Denise Nuvem: A verdade verdadeira é que tudo que sei desses caras são boatos, nunca me dediquei a ler um livro deles, tudo que sei são recortes. Por conta das experiências do que tenho criado, pessoas que estudam isso tem me encontrado pra dizer que o que estou fazendo é isso ou aquilo, mas eu simplesmente estou fazendo o que sinto de fazer, com base nas minhas experiências pessoais que pelo meu entendimento são todas experiências micropolíticas, termo que tem sido difícil de usar tendo em vista que a maioria entende a micropolítica como algo menor que o macro, e não como uma magia onde um espelha o outro, e não importa muito o seu discurso, mas as contradições entre o seu posicionamento em relação ao que está acima e você em relação com o que está abaixo. Pra mim micropolítica e os meus interesses estão muito mais próximos de hermes trismegisto, do que da esquizoanálise, mas tenho respeito pelo estudo e a forma como esses caras conseguiram disseminar para um pouco além da academia, mas ainda não muito bem sucedido por quem o estuda. A rua, os poetas, os pixadores, os mc’s, a rave, o techno, o samba, o funk, já fazem esquizoanálise e dialogam para além do discurso há muito tempo sem precisar buscar o termo filosófico para isso e não vejo as pessoas que estudam isso se conectando de uma forma que não seja antropológica com esses encontros. 

 
@loveletter.exe: Você tem idéias pra gente fugir dessa captura?
Denise Nuvem: Não há uma resposta pois há muita perversão do sistema e pouca subversão de valores do povo que foi educado a assimilar a poesia apenas como slogan publicitário ou a catarse dos memes, e não a alteração dos códigos de linguagem, de roteiros impostos. Dar uma resposta ou um caminho a seguir é construir mais fórmulas de captura, em meus projetos, e na minha vida, eu tento propor um caminho com mais exercícios analíticos, ao invés de reatividades afetivas, entender que nem toda reatividade é emoção, e nem toda análise seja um exercício racional. Os afetos estão aí, não há como se isolar disso, a sociedade está totalmente robotizada pelos meios de captura dos afetos e da vulnerabilidade social, o que proponho é uma compreensão mínima dessa inversão de valores. A impressão que dá com essa proposta é a de ser racional ou robotizar comportamentos e é exatamente o oposto,  é necessário validar nossas emoções, sem sermos capturados por isso. Pra isso é necessário quebrar a demagogia dos textos das redes. As plataformas que foram inseridas em nossas vidas cotidianas na última década programaram cérebros em massa capturando toda vulnerabilidade emocional da sociedade, onde as pessoas acreditam que textos justificam razões, eu acredito que o ser humano aprende por experiências, por trás dos textos há uma selva de desejos implícitos que pouco são lidos pelo método primitivo que somos estimulados a ler. Eu almejo que sejamos mais tecnológicos e não apenas que usemos de  tecnologia para nos proteger da selva que a humanidade construiu para se proteger de outra selva. 
A junção do resíduo da educação militar que recebemos na escola e a publicidade inserida em nosso inconsciente cotidianamente, e o que tivemos como resultado não passou de lógica eleitoral, em todas as relações, não apenas presidenciais. O que sinto é que a lógica eleitoral está presente em todas as relações, e essa é a forma como nos agrupamos, ou como cada indivíduo se torna primitivo para tentar se proteger das capturas. A homogeneidade de ideias e culturas e os agrupamentos narcísicos onde você se une com vários iguais pra provar que está munido, criar um exército massivo é realizar um desejo publicitário com um método eleitoral-militar. Onde tudo será espetáculo para as mídias narrarem, mas isso não promete nenhuma mudança efetiva na maioria das vezes quando não se lêem os contextos envoltos aos recortes dessas mídias. 
Construir textos sincronizados e prontos pode ajudar o grupo a se conhecer, mas pra não ser capturado é preciso quebrar a colonização antropológica onde se analisa o outro como um objeto exótico e distante, e não uma potente relação onde seja possível construir encontros possíveis.
Diante das experiências de grupos, o “desgrupo” se tornou minha pesquisa sobre as possíveis quebras de captura, ao analisar quais possibilidades de poder transitar entre grupos e como quebrar a lógica de manadas. Na era dos diários públicos e das construções de textos em massa estimulados pela plataforma a nos viciarem no discurso e trazer o sentido de revolução como impotência. Quebrar a homogeneidade, e transvalorar a massa para um sentido de diversidade, onde a diferença que reúne corpos de forma alinear possa ser mais que as massas que dividem e resumem a humanidade por classes sociais e culturas massificadas. Enfim, acredito na quebra do sistema identitário sim para a confusão algorítmica, e também na poesia não como estética mas como uma confusão da linguagem necessária para não sermos facilmente codificados e organizados pelo poder das máquinas.
Eu não tenho uma resposta, e por tanto caos, sabotagem, e perda de arquivos, desisti de produzir meus livros ou materiais de pesquisas em relação a esse tema. Não somos seres racionais, não queremos ser, precisamos quebrar o militarismo e a punição de dentro de nós para exigirmos que isso acabe nas estruturas sociais macropolíticas que ganha sempre do povo quando suas lógicas são reproduzidas, mesmo quando o povo em seu discurso produz narrativas  contra o sistema.



 

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